
Operação 100% Lusa
Grupo de formandos do curso "Pedrouços 1988"
Depois de um período complexo que levou à sua fundação, foi no ano de 1988 que a Lusa se reorganizou e definiu genericamente o modelo de agência noticiosa que ainda hoje perdura, acompanhando obviamente o evoluir dos tempos.
Sendo o resultado da fusão das agências ANOP e NP que coexistiam e concorriam num mercado tão pequeno, a Lusa juntou profissionais oriundos das duas empresas com culturas noticiosas diferentes, rivalidades profissionais e pessoais nem sempre fáceis de ultrapassar.
No princípio de 1988, entrou em funções na Lusa uma nova equipa de direção jornalística que decidiu, coletivamente, que havia que modificar procedimentos, reestruturar a redação, renovar métodos, redefinir objetivos de cobertura noticiosa e apostar numa abordagem profissional diferente, mais ativa, mais rigorosa e menos dogmática.
Foi um trabalho gigantesco que mexeu com tudo e que, naturalmente, implicou movimentações no quadro de pessoal através de recolocações, o que levou a que alguns optassem por sair da empresa, a qual por sua vez estava também num processo de concentração e reinstalação para o edifício de Benfica onde ainda está.
Naquele ano, o setor da comunicação social começou também a mexer fortemente. Sabia-se que estavam a desenhar-se novos projetos de imprensa, de rádio e proliferavam agências de comunicação. Tudo isso fazia com que houvesse uma constante movimentação dos quadros, enquanto se verificava que era também necessário criar uma dinâmica própria e reformista que identificasse a Lusa.
Aventura inédita: Criar uma equipa 100% Lusa
É nesse contexto que os elementos da direção jornalística da Lusa decidiram avançar com um projeto de formação de jovens jornalistas “100%Lusa”, em vez de andar a contratar casuisticamente, o que só se achava justificável quando houvesse uma necessidade muito específica. Foi uma “aventura inédita” levada a cabo com um sucesso tremendo que trouxe para o jornalismo muitos dos melhores que ainda hoje estão nas redações e outros que seguiram diversos caminhos profissionais, em regra sempre com grande sucesso. A escolha dos candidatos foi feita por anúncio nacional e as avaliações foram extremamente rigorosas.
O projeto de formação contou com a adesão e orientação de pessoas consagradas e externas à agência como Arons de Carvalho e formadores de altíssimo nível, que tiveram e têm funções relevantíssimos em todas as áreas, caso, por exemplo, do atual primeiro-ministro, António Costa, que deu aulas sobre Direito Constitucional.
Mas houve, sobretudo, uma inesgotável capacidade de trabalho dos principais quadros da casa, designadamente dos restantes membros da direção que estiveram sempre no terreno, acumulando funções diárias, pedagógicas e organizacionais (Luís Marinho, Fernando Oliveira, João Pinheiro de Almeida, Luís Pinheiro de Almeida e Mário Moura).
Em grande medida, esta ação foi também um desafio interno de construção de uma identidade Lusa que mobilizou todos os setores e profissionais da casa, numa operação inovadora que, mais tarde, foi repetida no mesmo jeito de “task force” em outras organizações jornalísticas.
Todos deram as mãos e o máximo para desenvolver e levar até ao fim um projeto que, a partir da Lusa, muito contribuiu para melhorar a qualidade geral da informação em Portugal.
Afinal a Lusa existe e justifica-se exatamente porque é um dos exemplos mais objetivos do que é uma empresa com vocação para servir o público.
Eduardo Oliveira e Silva
Diretor de Informação da Lusa em 1988