«Só tenho três perguntas», explicava uma das alunas mais atentas desta visita de estudo.
Afinal, aquelas perguntas tinham tudo... dava para ficar um dia inteiro a falar sobre elas.
1. "Qual foi o trabalho jornalístico que considera ter sido o mais importante que fez na sua carreira."
A resposta é sempre diferente, quando nos fazem esta pergunta.
Desta vez lembrei-me de um trabalho irrelevante que fiz quando ainda era estagiário no Diário de Notícias.
Uma velhinha sofria há meses com obras públicas inacabadas junto a sua casa, no Bairro Alto.
Fiz o meu trabalho. Ouvi as queixas da senhora e questionei os serviços da CML. Publiquei uma pequena notícia de fundo de página.
Quem tinha de ler aquela notícia, leu: os serviços da autarquia.
No dia seguinte estavam os funcionários da câmara a resolver o problema.
A senhora ligou-me, a chorar, que eu merecia tudo, que lhe salvara a vida. Deixou de ter água da chuva a escorrer nas paredes do quarto.
Há coisa mais maravilhosa que sentir que o jornalismo pode ser uma forma de ajudarmos os mais fracos,
dar voz àqueles que ninguém quer ouvir? Afinal esta pergunta está cheia de jornalismo. Podíamos ficar o dia todo a falar dos fundamentos do jornalismo.
Numa época de tanta desinformação, sabe bem lembrar porque é tão importante uma sociedade livre e democrática ter bom jornalismo.
2. "Quais são as suas grandes referências do jornalismo em Portugal?"
Mais uma difícil.
Há muitas pessoas que admiramos. Tantas e tantas.
Mas, a minha geração viveu muito intensamente a revolução dos cravos. Ver as imagens da revolução de 25 de abril de 1974, o Adelino Gomes a fazer perguntas aos capitães de abril...
É algo indescritível.
Depois, essa geração continuou décadas a fazer jornalismo de eleição.
Não há como não sentir uma grande admiração por Adelino Gomes, Joaquim Furtado, Alfredo Cunha e tantos outros jornalistas dessa geração. Para além de grandes profissionais, grandes pessoas.
3. "O episódio com a deputada Romualda ocorrido na Lusa em 2021. Como viu esse episódio e como foi sentido na empresa?»
Bem... foi muito complicado. Muito complicado.
Texto de João Pedro Fonseca