A cooperação com os países de língua portuguesa na área da formação é, no
entanto, uma das prioridades da Escola Lusa, já que se enquadra nos termos de
cumprimento do serviço público a que a agência Lusa está comprometida.
Constitui uma prática antiga essa troca de experiências entre a redação da Lusa
e redações de países lusófonos. Já existiram experiências de formação com
jornalistas da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. Tendo sido iniciados contactos
também com Angola, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
A formação ministrada pelos delegados da Lusa em Maputo também tem sido um exemplo de sucesso, que nos motiva a fazer mais e melhor.
O caso mais frutuoso nestas parcerias de formação tem sido o de Cabo Verde.
Existindo uma tradição, com relevante sucesso, de realização de ações de
formação para jornalistas cabo-verdianos.
Vale a pena
explicar este caso concreto, porque pode ser adaptado a outros países com
necessidades semelhantes:
A colaboração entre as agências de Cabo Verde e de
Portugal data do início da atividade da antecessora da Inforpress, a Cabopress,
em outubro de 1988, quando a Lusa já estava em funcionamento (a própria agência
cabo-verdiana assinala na sua história que “as primeiras diligências para a
criação da Cabopress datam de 1981, quase um ano depois da criação da Delegação
da ANOP em Cabo Verde”).
Ao longo
dos anos, profissionais da Lusa, entre jornalistas e técnicos, colaboraram e/ou
participaram em ações de formação em Cabo Verde.
A cooperação entre as duas agências abrange também a
cedência de espaços em cada uma das respetivas sedes para a instalação de
delegações/correspondentes.
O mais recente protocolo de formação foi antecedido de
uma ação de formação em 2018, solicitada à Direção de Informação da Lusa pela
então gestora executiva da Inforpress, centrada na escrita de agência e
multimédia.
Esta ação
decorreu de 21 a 28 de maio de 2018, na sede da Inforpress, na Praia, e
envolveu 27 formandos (26 da Inforpress e 1 da delegação da Lusa em Cabo
Verde).
Em contactos estabelecidos durante essa
ação, a Embaixada de Portugal na Praia manifestou interesse na celebração de um novo protocolo de dois anos entre a Inforpress, a Lusa e o Camões – Instituto da
Cooperação e da Língua para desenvolvimento da Comunicação Social de Cabo
Verde, pública e privada, num modelo que poderia ser replicado noutros países
lusófonos. O protocolo viria a ser assinado mais tarde, e o plano de formação
foi concluído.
Em
contactos posteriores, as administrações e direções de informação da Rádio e
Televisão públicas, bem como dos jornais Nação e Expresso das Ilhas
manifestaram interesse em que os seus jornalistas participassem também nas
ações de formação ministradas pela Lusa.
A ideia
foi igualmente bem acolhida pela Direção-Geral da Comunicação Social de Cabo
Verde e pela Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC).
Nas ações de formação realizadas, os
contactos entre formadores e formandos e as respostas dadas aos inquéritos
efetuados revelaram dados interessantes.
Os temas que os jornalistas identificaram
como prioritários para futura formação, segundo um inquérito realizado
recentemente, são:
- multimédia (áudio, foto e
vídeo)
- jornalismo de investigação
- escrita jornalística
(técnicas, erros de português, acordo ortográfico, escrita criativa, escrita de
agência)
- organização da redação
(coordenação entre editores e redatores, incluindo correspondente)
- redes sociais: desafios e
produtos jornalísticos específicos
- jornalismo especializado
(política, cultura, ambiente, religião)
- formações específicas (sem
concretização)
- questões éticas e
deontológicas, e liberdade de expressão e censura
- formação das lideranças (diretores
e editores)
- outros géneros além da
notícia (reportagem, por ex.)
Para
adaptar a formação às realidades locais, os formandos sugeriram também uma
maior adequação à realidade cabo-verdiana, no sentido de se aumentar, em
futuras ações, a formação on-the-job (formadores acompanham o dia-a-dia dos
jornalistas na sua redação).
Em
relação à realidade jornalística na Guiné-Bissau, os formadores da Lusa notaram
uma grande necessidade de ações de formação focadas em questões tão
fundamentais para o jornalismo como a ética e a deontologia, cuidados a ter com
as fontes, noções sobre a desinformação e o uso de ferramentas de verificação e
temas relacionados com a especialização.
Há um caminho a percorrer, tão proveitoso para os jornalistas que escrevem em língua portuguesa quanto o esforço que colocarmos na promoção de novas parcerias.
A criação da Escola Lusa vem dar um contributo forte para esse futuro que se pretende mais promissor.