
Duas turmas do primeiro ano da Licenciatura em Jornalismo da ESCS (os nossos vizinhos de Benfica) visitaram a redação da Lusa no dia 07 de dezembro de 2023 e, mais uma vez, revelou-se que a curiosidade dos alunos em relação à Lusa gera sempre um debate muito interessante.
Desta vez, combinámos com a professora Fátima Lopes Cardoso se seria possível recebermos um relato da recetividade da visita feito pelos alunos.
A professora Fátima foi certeira, apostou numa tarefa para os estudantes de jonalismo: que escrevessem uma reportagem sobre a visita.
A visita teve agora um tom mais 'profissional', porque todos os cerca de 60 alunos estavam a tirar notas, alguns de caneta e papel, mas a maioria de telemóvel na mão, não a 'scrolar' nas redes sociais, mas sim a tirar notas de tudo o que viam e ouviam.
Foi muito curioso, porque olhamos para eles e relembramos como era quando começámos no jornalismo, já vão mais de 35 anos: íamos com um maço de folhas (as laudas) A4 dobradas ao meio (ainda não havia a moda dos chiquérrimos bloquinhos Moleskine). Agora não se usam canetas. Só o telemóvel.
E serve para tudo, para tirar notas, para fazer fotos, gravar pequenos vídeos ou mesmo áudio.
São outros tempos.
Uma turma de manhã, outra à tarde, foi um dia cheio de juventude na redação da Lusa.
Alguns jornalistas, baralhados, desabafavam, ao ver-nos com os alunos à tarde na redação: «Ainda andas com essa miudagem? Desde as 10:00 da manhã?»
Sorrisos: "Não são os mesmos. É uma segunda turma. A que viste de manhã já foi embora!»
Alunos
de Jornalismo ganham novas perspetivas
Uma agência de notícias, jornalistas e alunos de Jornalismo. Estava criado o contexto perfeito para um debate didático.
Por Duarte Roçadas
Pelas 10:00 da manhã, no dia 7 de dezembro, quinta-feira, a turma A de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social foi calorosamente recebida na agência Lusa por João Pedro Fonseca, jornalista da agência há mais de 16 anos. Juntamente com Paulo Nogueira, jornalista da Lusa há mais de 30 anos, foram apresentados aos alunos quais os objetivos da agência noticiosa e de que maneira podem contribuir para o bom funcionamento e para a credibilidade do jornalismo português.
Segundo João Pedro Fonseca e Paulo Nogueira, a génese do conceito de “agência” deu-se no século XIX, quando dois jornais americanos decidiram enviar o mesmo jornalista para o terreno, porque ficava mais barato. Foi definido que a função das agências é trabalhar para os jornalistas, e não para o público. “Nós criamos as notícias, mas estas dependem de cada um dos órgãos de comunicação social para serem distribuídas”, refere Paulo Nogueira.
Para se entender o impacto que esta agência pode ter no mundo da comunicação social, é apresentada aos alunos uma clara noção da dimensão e alcance da agência. A Lusa é “apenas” a maior redação do país, com 306 jornalistas, mais de 500 notícias produzidas por dia e umas incríveis 267 mil notícias feitas no ano de 2022. A Lusa tem também delegações um pouco por todo o globo, com correspondentes em todos os países com comunidades portuguesas significativas e também nas principais capitais do mundo. A agência, sublinha João Pedro Fonseca, “tem a função de levar o país ao mundo, produzindo também notícias de localidades mais pequenas de Portugal, de forma a que os emigrantes possam manter uma certa identificação com o seu país de origem”.
Paulo Nogueira destaca a importância de se ter um sentido crítico na profissão: “O jornalista tem que estar atento ao mundo que o rodeia, tem que sair da sua bolha.” É essencial combater a desinformação de uma forma mais eficaz e aumentar a credibilidade do conteúdo jornalístico, que é hoje tão importante na sociedade. E como principal meio de combate à desinformação, a Lusa disponibiliza cursos gratuitos, que oferecem ferramentas para detectar conteúdo que não seja verdadeiro.
É também referida a importância que a tecnologia pode ter na profissão, como ferramenta de trabalho que possa ajudar os jornalistas no exercício das suas funções, mas nunca como substituto do jornalista, porque “apesar de as máquinas facilitarem o processo da criação de notícias, nunca terão uma visão crítica da sociedade”, conclui Paulo Nogueira.
No final da apresentação dos dois jornalistas, é dada a oportunidade aos alunos de Jornalismo de colocarem perguntas, para entenderem melhor o funcionamento da Lusa e que desafios poderão enfrentar na futura profissão, a fim de serem agentes de informação verdadeira e confiável.
E nada melhor do que visitar presencialmente um espaço de redação, onde se encontra um ambiente descontraído e amigável, e se dá o convívio entre alunos e profissionais de informação, que explicam como funciona a agenda de trabalhos e as funções dentro de cada secção.
Apesar de ser uma profissão extremamente importante, o jornalismo tem diversos problemas. João Pedro Fonseca enumera alguns dos constrangimentos que considera estarem a estrangular a profissão: “A perda dos meios publicitários, o sensacionalismo para ganhar cliques, a precariedade, bem como os salários baixos e, acima de tudo, a ruptura com os valores fundamentais da profissão.”
A Lusa continua a funcionar como o principal agente de combate da desinformação e a consolidar-se como uma fonte fidedigna. Ciente de que está perante jovens que têm a incubência de mudar o rumo do jornalismo, Paulo Nogueira despede-se com um dos princípios sagrados da profissão: “É fundamental que vocês, futuros jornalistas, procurem sempre a verdade e que respeitem o código ético e deontológico.”
A missão da agência Lusa
A agência Lusa é um meio de comunicação fundamental para que, todos os dias, a informação chegue a casa dos portugueses. “Somos os heróis anónimos desta indústria”, afirma o jornalista João Pedro Fonseca aos estudantes de Jornalismo que visitam a agência.
Maria Inês Rocha
Arquivo Lusa
O primeiro impacto é provocado pelas fotografias que cobrem as paredes da sala Noémia de Sousa, onde os estudantes de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) foram recebidos na sede da agência Lusa, em Benfica, Lisboa. São fotos da autoria dos fotojornalistas da casa, muitas delas premiadas a nível nacional e internacional. Na imagem de Nuno André Ferreira, que venceu um World Press Photo, pode ver-se um bebé dentro de um carro, fixando diretamente a câmara do repórter fotográfico, enquanto na rua as chamas consumiam mato em setembro de 2020, num incêndio em Oliveira de Frades, Viseu. Numa outra imagem de forte impacto, Mário Cruz eterniza o instante em que uma criança dorme sobre um colchão rodeada de lixo, no rio Pasig, completamente poluído, nas Filipinas. E num registo mais curioso, a fotografia de Paulo Novais, que capta o momento em que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa foi a banhos na praia fluvial de Mosteiro, em Pedrogão Grande, deixando apenas a cabeça fora de água, como um crocodilo e que foi merecedora do Prémio Gazeta da Fotografia 2018.
Foi nessa sala que os jornalistas João Pedro Fonseca e Paulo Nogueira apresentaram, de forma descontraída e divertida, a Lusa e a sua importância no bom funcionamento do jornalismo português. Como João Pedro Fonseca começou por explicar, “as agências noticiosas nasceram no final do século XIX, quando dois jornais americanos decidiram enviar o mesmo jornalista para o terreno, porque ficava mais barato”.
Composta por 306 jornalistas espalhados por Portugal e pelo mundo, a agência Lusa ganha o título de maior redação de Portugal, produzindo, em 2022, mais de 500 textos por dia, para além das muitas fotos, áudios e vídeos. A sua importância assenta no facto de ser um meio de comunicação que distribui notícias a um alargado leque de clientes, que, por sua vez, as selecionam para transmitir ao público. Entre os clientes estão jornais nacionais e regionais, bem como televisões e rádios, e todas as habituais fontes de informação a que a população recorre. “A Lusa é crucial para o funcionamento dos órgãos de comunicação porque garante uma cobertura noticiosa abrangente que as redações de cada jornal, televisão ou rádio não conseguem garantir por si”, afirma João Pedro Fonseca. “Somos grossistas da indústria”, acrescenta, destacando que a função das agências é trabalhar para os jornalistas e não diretamente para o público.
A marca da Lusa
A agência de notícias não deve ser vista apenas como produtora de conteúdos que são comprados, mas uma empresa que presta serviço público, cujo valor social é superior ao económico. Como explica João Pedro Fonseca, “a Lusa tem a preocupação que os órgãos de comunicação privados não têm, na medida em que não dá voz apenas à população e aos acontecimentos da capital: vai também atrás de histórias que passam despercebidas, explora as histórias que acontecem nas pequenas aldeias a que ninguém vai, através dos correspondentes espalhados por todos os distritos de Portugal”. E mais importante ainda, acrescenta, “esta agência leva o país às comunidades portuguesas fora de Portugal e traz também essas comunidades ao país”.
A Lusa conta com vários jornalistas nos países de língua oficial portuguesa, como o Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau ou São Tomé e Príncipe e está também presente em todos os locais do mundo onde existem grandes comunidades de emigrantes portugueses, de forma a ajudar que mantenham a ligação ao país de origem. A agência conta ainda com correspondentes em cidades de reconhecida relevância em termos políticos, como Bruxelas e Nova Iorque. Deste modo, a Lusa não é só Lisboa nem é só Portugal, a Lusa é também uma agência multinacional extremamente importante. “Somos os heróis anónimos desta indústria”, admite João Pedro Fonseca.
A Lusa como fonte fidedigna
Esta agência de notícias difere-se de todas as outras fontes de informação por não apoiar o jornalismo de sangue e espetáculo. Como esclarece Paulo Nogueira, “a Lusa recusa-se a ir somente onde há tragédias ou a ignorar ou ocultar temas importantes por haver outros que despertem mais a atenção do público, como fazem os canais noticiosos de Portugal”. A agência contribui para a credibilidade do jornalismo português. “Não somos reféns de qualquer tipo de interesses, quer sejam políticos, económicos ou qualquer outro”, sublinha o atual responsável pela Escola Lusa, João Pedro Fonseca.
Paulo Nogueira, que já trabalha na Lusa há mais de 30 anos, destaca a importância do sentido crítico na prática do jornalismo, afirmando que “o jornalista tem de estar atento ao mundo que o rodeia e sair da sua bolha para que a informação exposta seja fidedigna”. A credibilidade do conteúdo jornalístico assenta também no combate à desinformação, algo tão presente e desafiante nos dias de hoje. João Pedro Fonseca afirma que “a Lusa tem um papel importante de referência e exemplo no combate às fake news e oferece cursos gratuitos para que todos consigam identificar os conteúdos que não são verdadeiros". Os experientes jornalistas referem, por fim, que a tecnologia pode oferecer muitas vantagens à profissão, se as suas ferramentas forem devidamente utilizadas. “Não temos de voltar ao mundo a preto e branco, mas temos de saber usar bem a tecnologia e a base de informação que temos, tirando proveito disso, mas sem ficarmos escravos da tecnologia e sem nos deixarmos moldar por ela”, defende Paulo Nogueira. “Riam-se invés de dizer LOL”, acrescenta, provocando muitas gargalhadas na sala.
Os estudantes ficam fascinados pela paixão com que os jornalistas falam, não só da Lusa, mas da prática do jornalismo de agência, que muitos desconheciam. “Não tinha noção de que sem a Lusa não teríamos acesso a toda a informação que temos”, afirma Matilde Abrantes, aluna da ESCS.
Seguiu-se a chuva de perguntas curiosas e indiscretas dos estudantes de Jornalismo. Paulo Nogueira foi interrogado sobre se não lhe incomodava a possibilidade de a sua assinatura ser removida do artigo que escreveu, já que os clientes da Lusa têm esse direito. “O papel da minha profissão não requer reconhecimento, requer informar a população, isso sim”, afirma.Os alunos tiveram, depois, a oportunidade de explorar a área da redação, no primeiro piso do edifício. Secretárias cheias de papéis, dedos irrequietos a teclar e sorrisos na cara foi o que encontraram, após subir as escadas. Sempre acompanhados de João Pedro Fonseca, exploraram todas as diferentes secções da redação, mostrando particular interesse pela secção do Desporto, onde falaram com o jornalista e editor da secção João Pedro Simões. O responsável da editoria revelou a sua longa agenda de trabalho e algumas das dificuldades do dia a dia de um jornalista, mas sem deixar de os incentivar a perseguir os seus sonhos.
De coração cheio, os alunos voltaram para casa a perceber que a Lusa é fulcral na indústria das notícias. Mesmo que esta agência noticiosa não tenha contacto direto com o público, molda, indiretamente, a sua vida e cultura. “Os jornais e canais noticiosos dependem todos da Lusa, tal como a população portuguesa depende da Lusa para continuar a receber informação verdadeira, pertinente e atual”, conclui Paulo Nogueira.
A agência que dá voz às redações
O som das teclas do computador ecoa na redação. Várias televisões sintonizadas em diferentes canais transmitem, em simultâneo, informações sobre o mundo. Telefonemas incessantes: “Quem? Quando? Onde?”. Estamos na agência Lusa.
Por Mariana Veloso Lopes
ARQUIVO LUSA
Passados quase 37 anos, o edifício parece inalterado. Secretárias brancas, com um toque de carisma pessoal e um computador sob cada: uma redação comum. Contudo, este espaço de informação tem algo de especial. “Esta é uma das maiores redações do país, senão a maior”, afirma João Pedro Fonseca, coordenador do gabinete de projetos, inovação e formação da Lusa. Com 306 jornalistas ativos, é considerada a maior agência de notícias de língua portuguesa e ostenta o título de uma das maiores redações do país.
Um dos pontos fortes deste meio de comunicação é a rede de correspondentes presentes em cada canto do mundo, em especial nos PALOP. João Pedro Fonseca realça a importância, para a agência, de estar presente em diferentes hemisférios: “Com os nossos correspondentes, conseguimos retratar a realidade de cada país. Mais nenhuma redação em Portugal tem jornalistas em locais como a Lusa tem, como por exemplo na Guiné, Cabo Verde, Moçambique e Timor.”
João Pedro Fonseca destaca a singularidade que os correspondentes promovem à Lusa: “Esta é mesmo a marca da nossa agência.” Um trabalho incessante, notícias constantes e uma dedicação incansável com uma única causa: alertar o mundo. O coordenador descreve esse compromisso de informar o planeta como um esforço inigualável, afirmando que “enquanto em Portugal, na agência Lusa, alguns jornalistas fecham o computador, outros irão abri-lo, noutro canto do globo.”ARQUIVO LUSA
Ponte de confiança
Ao olharmos em redor com alguma atenção, torna-se evidente que o jornalismo está presente por toda a agência, nas suas mais diversas linguagens, seja escrito, televisivo, radiofónico ou fotográfico. A paixão pelo jornalismo e a vontade de descobrir algo novo a cada dia são fatores necessários para ingressar nesta empresa, segundo Paulo Nogueira, um dos antigos chefes de redação: “É muito gratificante. Há tanta gente a fazer tanta coisa diferente nesta área e é tudo a mandar para o mesmo: o jornalismo.”
Vencedora do “Prémio de Excelência e Qualidade de Trabalho 2010”, atribuído pela Aliança Europeia das Agências de Notícias, esta agência orgulha-se de construir uma ponte de confiança entre a informação e o público. “A Lusa é uma referência para qualquer meio de comunicação, tanto nacional, como internacional”, confirma Paulo Nogueira.
O silêncio das contratações
A ausência de novos rostos presentes nas secretárias da redação é algo que preocupa os antigos chefes de redação. “Já não há contratações há dez anos. A média de idades na Lusa é de mais de 50 anos. É muito mau. O bom numa redação é ter variedade”, lamenta o coordenador João Pedro Fonseca.
Enquanto a agência permanece imersa numa década de silêncio de contratações, muitas questões soam alto: “Será que a falta de diversidade etária de redatores afeta, realmente, o trabalho da Lusa?”; “Será que o facto de não existir diferença de etnias dentro da redação impossibilita a Lusa de ter outra visão do mundo ao seu redor?”
Luta contra a desinformação
Nos corredores desta agência, a inovação não é apenas um objetivo, mas uma prática intrínseca. Projetos como Escola Lusa e o site Combate às Fake News destacam-se como bússolas que apontam a direção certa, na longa tempestade da desinformação.
A Escola Lusa compromete-se, segundo João Pedro Fonseca, a moldar o futuro do jornalismo, contribuindo para a formação de profissionais. “Reforça valores, princípios, regras e técnicas do jornalismo”, tal como está apresentado no site.
Por outro lado, o combate às fake news assume uma posição proativa na defesa da verdade informativa. Impulsionado pela inteligência artificial, este projeto propõe-se a proteger e apoiar profissionais de comunicação, cidadãos e instituições contra a maré da desinformação que inunda as redes sociais e outras fontes digitais. “Devido às redes sociais, existem muitos conceitos errados. Tudo o que tenha o formato de notícia já faz as pessoas acreditarem de que realmente se trata de uma notícia”, realça João Pedro Fonseca.
As histórias compartilhadas ressoam com uma paixão que não se permite a ser apenas profissão. O brilho nos olhos de cada pessoa que habita as secretárias da agência é evidente. Após as afirmações proferidas por João Pedro Fonseca e por Paulo Nogueira, é possível, a qualquer um presente, lembrar-se instantaneamente de um excerto do discurso de Gabriel García Márquez, ao receber o Prémio Nobel: “Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a morrer por isso poderia persistir num ofício tão incompreensível e voraz.”
Reportagem nos bastidores da informação
A sua vida levou-os ao encontro do jornalismo. Agora, os estudantes, futuros jornalistas, estariam reunidos para uma visita à agência Lusa, local onde poderiam usufruir do primeiro contacto com o mundo em que as palavras ganham vida e têm um profundo impacto na sociedade.
Por Miguel Dias
Todos os anos, a agência Lusa promove uma visita aos alunos da área de comunicação às suas instalações. O objetivo é simples: pretende-se que os estudantes consigam compreender a importância do jornalismo, num mundo em constante mutação. Os alunos sentaram-se e contemplaram as fotografias premiadas que compunham a sala. Primeiro as apresentações: João Pedro Fonseca, antigo chefe de redação da Lusa e atual coordenador do projeto Escola Lusa, começa por dizer que aquilo que mais lhe dá prazer, como profissional, “é a reportagem em cenários de conflito”. Vê-se como jornalista de Política e Sociedade, apesar de considerar que já fez um pouco de tudo nesta profissão.
O papel da agência
Fala-se da agência Lusa, afinal, esta é a personagem principal deste encontro. É a maior redação de Portugal, produzindo cerca de 547 notícias diárias. Essa produção só é possível devido à extensa rede de correspondentes da Lusa, presente em todos os distritos do país e em várias partes do mundo, especialmente nos países lusófonos e naqueles em que existe um grande número de comunidades portuguesas: “França, Venezuela, África do Sul, Estados Unidos e Canadá são exemplos disso”, fez questão de referir João Pedro Fonseca. É fundamental que o jornalista consiga dominar a língua, uma vez que a clareza da escrita e o seu bom uso são fundamentais para que a informação chegue às populações de forma simplificada e concreta.
Os jornalistas de agência são os “grossistas da indústria”. Foi assim que foram identificados por Paulo Nogueira, também ele jornalista, que se juntava à conversa. O papel da agência é o de produzir conteúdos noticiosos para que outras fontes os apliquem. As notícias são distribuídas pelos vários meios de comunicação social, seus clientes, que as utilizam de acordo com os seus interesses, o que facilita a produção de conteúdo noticioso. Mas nem tudo é perfeito: “Muitas vezes, os nossos clientes assinam notícias da Lusa, como se fossem suas. É algo que gera indignação, aqui, nos corredores da redação, uma vez que um jornalista está a assinar um trabalho que não é seu, é algo que é feito por nós”, diz o antigo chefe da redação.
Ainda se ponderou, no seio da agência, o autor do conteúdo assinar as suas peças. Afinal, se a notícia estiver assinada, como acontece com aquelas que são produzidas no estrangeiro, fica mais difícil com que o cliente utilize a totalidade desse conteúdo: “Em termos de consciência é mais complicado usar uma notícia com o nome do autor”, remata João Pedro Fonseca.
Fala-se do anonimato dos jornalistas de agência: “Para mim, não me faz impressão nenhuma. Assino as minhas peças como persona non grata, mas compreendo que alguns colegas de profissão não se sintam bem com isso, pois muitas pessoas deste seio gostam da visibilidade que o jornalismo proporciona e, por essa razão, abandonam o jornalismo de agência”, constata Paulo Nogueira. A revelação suscita uma pergunta: “Se a Lusa é a principal fonte de notícias do país, quais são as entidades que fornecem informações à agência?” O jornalista não hesitou em responder: “As nossas fontes são tudo o que são organismos públicos. São maioritariamente fontes oficiais, tais como o governo, partidos políticos e até mesmo o IPMA, por exemplo. Também existem casos em que as pessoas denunciam e testemunham acontecimentos que se revelam informações importantes. Temos também fontes nas forças de segurança, como é o caso da GNR e da PSP.”
A importância da proximidade
A informação que se transmite aos alunos é que o jornalismo se faz, essencialmente, na rua e que o jornalista deve procurar as fontes e não esperar que estas venham ter consigo. Paulo Nogueira faz questão de o demonstrar com um exemplo: “Havia rumores sobre uma possível greve do metro. Ninguém na redação sabia se a paralisação se iria realizar e, por essa razão, tentámos obter informações por telefone, mas ninguém nos respondia. Decidi, como temos uma estação perto da agência, verificar pelos meus próprios olhos se iria haver greve ou não. E lá estava o papel afixado”.
O jornalista não pode ficar imobilizado, tem de agir. Em certos casos, a fonte é o próprio jornalista. A informação necessita de ser dada rapidamente às populações, visto que é algo que pode alterar as suas vidas. É primordial manter a proximidade com as pessoas, uma vez que a Lusa aborda os problemas das populações e aquilo que lhes falta: “Nós fazemos serviço público”, remata Paulo Nogueira, que acaba por abandonar a conversa. Afinal, tinha feito o turno da noite e ainda teria trabalho em mãos para acabar. É assim a vida de jornalista.
Evolução tecnológica
João Pedro Fonseca aproveita para discutir o impacto da Inteligência Artificial no jornalismo. Destaca a capacidade desta ferramenta de extrair informações em tempo real de bases de dados, o que permite aos jornalistas produzir notícias mais aprimoradas e consistentes, com base em factos comprovados. No entanto, enfatiza que, apesar da habilidade da máquina para fornecer dados para se construir notícias, esta nunca substituirá os jornalistas, visto que carece da capacidade crítica fundamental para compreender aquilo que se passa na sociedade: “Falta-lhe o sentido humano”, diz João Pedro.
O sensacionalismo e a proliferação de notícias falsas nos meios de comunicação social são identificados por João Pedro Fonseca como uma fonte de descredibilização do jornalismo: “As pessoas têm desconfiança nas notícias”. O antigo chefe de redação vê os futuros jornalistas como “combatentes capazes de mitigar a desinformação difundida no mundo”. A agência Lusa disponibiliza formação em literacia mediática e de verificação de dados, ferramentas que se tornam fundamentais para conter a difusão de falso conteúdo noticioso: “Com estes cursos, as pessoas conseguem fazer uma melhor gestão das informações que recebem e distinguir aquilo que é verídico daquilo que não o é.”
Terminada a palestra, João Pedro Fonseca acompanha os alunos para uma visita à redação. A curiosidade invade os olhos dos estudantes que apreciam, pela primeira vez, aquele mundo. Em cada secção da redação, veem-se papéis espalhados pelas secretárias, os computadores e as televisões ligadas. O ambiente é familiar: os colegas de trabalho falam como se fossem amigos de longa data e dão-se risos e gargalhadas que ecoam pela redação. É o mundo da informação no seu melhor: vibrante, acolhedor e desconcertante. Tem-se uma conversa com o editor de Desporto, João Pedro Simões, que se apresentou bem-disposto à chegada dos estudantes à sua secção. Falou-se da agenda, preenchida, dos eventos desportivos a cobrir para aquela semana e da tentativa de a Lusa dar foco aos desportos com menos visibilidade.
A visita termina. Faz-se uma fotografia para recordação. João Pedro Fonseca acompanha os alunos à porta: “Se precisarem, podem sempre contar connosco”. Afinal, esse é o espírito do jornalismo: o de entreajuda e o de proximidade para com o outro. Os alunos deixaram o edifício de sorriso no rosto, animados com o mundo que os esperava assim que concluíssem a licenciatura. Aquela iria ser a sua vida e que bem eles se sentiam com a possibilidade.
Uma jornada de conhecimento para alunos da ESCS
Estabelecida em Lisboa, a agência Lusa assume um papel vital ao posicionar repórteres em nações lusófonas e em áreas onde as comunidades portuguesas se fazem mais presentes. Qual a missão? Oferecer serviço público com zelo e amplitude
Por
Maura Moreira
Os corredores da agência Lusa receberam um grupo de alunos
da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) para uma sessão informativa.
O antigo chefe de redação e atual responsável pela Escola Lusa João Pedro
Fonseca foi o guia desde o primeiro minuto, enriquecido posteriormente pela
participação do jornalista Paulo Nogueira.
João Pedro Fonseca, Paulo Nogueira e alunos da ESCS (Escola Superior de Comunicação Social) durante a sessão informativa da agência LUSA.
A Lusa desenvolve jornalismo de agência que se caracteriza, essencialmente, pelo facto de ser trabalho realizado por jornalistas, para jornalistas. Este pequeno, grande pormenor exige mais cuidado e atenção de forma a fomentar a confiança dia após dia. ‘’É uma responsabilidade acrescida”, refere João Pedro Fonseca.
Através do vídeo de apresentação da agência, foi possível perceber informações fundamentais que, posteriormente, foram desenvolvidas e fundamentadas pelos dois jornalistas. A instituição trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana procurando visar o lado verdadeiro do jornalismo com sentido de missão. Com repórteres espalhados por todo o mundo, o que confere uma vantagem inconcebível para muitas outras agências, jornais ou televisões, a Lusa consegue abrir o leque de potenciais notícias em grande escala. ‘’Quando um jornalista fecha o seu computador, certamente há um colega a abrir para iniciar o seu dia de trabalho’’, afirma Paulo Nogueira.
Com 263 trabalhadores de quadro e 306 jornalistas, a agência Lusa representa a maior redação do país, ultrapassando até a RTP. É uma instituição que faz serviço público, oferecendo não apenas notícias, mas também conexões pelo mundo. A sua ligação à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) fortalece a sua posição como um veículo de comunicação abrangente. ‘’O mundo todo em português’’, esta frase ecoou pela sala e cimentou-se nos ouvidos dos futuros jornalistas de tal forma que tudo o que se seguiu fez ainda mais sentido.
Durante a sessão, João Pedro Fonseca destacou a estrutura acionista da Lusa, da qual o Estado português possui 50,15% das acções, seguido pela Global Media com 23,36%, Páginas Civilizadas com 22,35%, NP com 2,72%, o Público com 1,38% a RTP com 0,03% e o Diário do Minho com 0,01% da empresa.O diálogo abordou a dependência histórica do mundo na comunicação social para obter notícias, destacando técnicas para discernir a verdade da mentira em notícias e o código deontológico do jornalista.
Em 2022, a Lusa produziu um total de 267.029 notícias entre textos, vídeos, áudios e conteúdos mistos, incluindo a produção de infografias enfatizando a importância do jornalismo em todas as suas formas.
As questões dos alunos evidenciaram a visão da Lusa como uma fornecedora "grossista" de notícias para os jornalistas. Isso realçou a prática em que alguns modificam o conteúdo adquirido, removendo "marcas de água" e publicando o texto como produção própria. ‘’A maior parte dos nossos colegas, incluindo eu próprio, não ligamos a isso. Sabemos que fomos nós que escrevemos e isso basta-nos. Não nos sentimos ofendidos, mas percebemos o motivo da maioria sentir uma certa relutância relativamente a este assunto’’ refere o jornalista Paulo Nogueira. A prática que se tornou comum, levanta questões éticas e de propriedade intelectual. ‘’Contudo, em termos legais é possível fazer, embora deixe muito a desejar em termos de respeito pela propriedade intelectual’’, acrescenta João Pedro Fonseca.
A agência tem como preocupação cobrir todos os concelhos de Portugal, uma prática distinta no serviço público, embora nem todas as notícias sejam utilizadas pelos órgãos que as adquirem. Paulo Nogueira enfatizou a importância da maestria na língua e do uso inteligente da tecnologia pelo jornalista, evitando ser seu escravo, permitindo assim um jornalismo mais fundamentado e relevante.
Professora e jornalista Fátima Lopes Cardoso (no centro) e alunos da ESCS (Escola Superior de Comunicação Social)
O jornalismo atravessa uma fase de transição, em que a ética pode ser ameaçada pela concorrência, pelo que João Pedro Fonseca considera que “é necessário descobrir uma nova forma de regular a indústria’’.
Foram ainda abordados temas como o fact-checking, o combate à desinformação, a importância das fontes confiáveis e o declínio dos meta dados no Whatsapp incentivando o uso de outras formas para receber informações como o email.
A visita culminou com uma jornada pelos departamentos e editorias da redação, proporcionando aos alunos um contacto direto com jornalistas especializados de diferentes áreas, como a lusofonia, agenda, desporto, fotojornalismo, sociedade, política, cultura, entre outras secções que integram a redação. O contacto directo com jornalistas experientes desencadeou algumas perguntas prontamente respondidas pelos diferentes intervenientes que revelaram uma certa satisfação aliada ao entusiasmo diante do considerável número de jovens alunos que almejam seguir uma carreira idêntica, mesmo diante da crise do sector.A manhã na Lusa funcionou, para os alunos da ESCS, como uma experiência única que permitiu a compreensão das rotinas do jornalismo de agência, as suas práticas, desafios éticos e a relevância incontestável do jornalismo como um pilar fundamental da sociedade. ‘’O ecossistema da desinformação é um desafio maior do que pensava, mas estou pronta para fazer parte deste mundo onde não existem dias, nem notícias iguais’’, confidencia Jéssica Silveira, aluna da ESCS, que tal como os colegas da licenciatura promete continuar a trabalhar para, um dia, ser ela própria a ter a oportunidade de levar o mundo às pessoas, em forma de informação.
Alunos de Jornalismo da ESCS visitam a agência Lusa
No dia 7 de dezembro de 2023, durante a primeira greve dos trabalhadores do Jornal de Notícias em 35 anos, uma turma de alunos de Jornalismo visitou a redação da Agência Lusa. João Pedro Fonseca e Paulo Nogueira, jornalistas, falam sobre os heróis anónimos das agências, a importância do serviço público jornalístico e a influência das novas tecnologias no futuro da profissão.
Por Rita Miranda
“Mandem-me para o terreno e eu conto histórias”, diz João Pedro Fonseca sobre ser repórter. No Espaço Polivalente Noémia de Sousa, a ampla sala junto à entrada da redação de Lisboa da Agência Lusa, o jornalista com 35 anos de profissão apresenta-se a um grupo de jovens. À sua frente estão cerca de 20 alunos de Jornalismo, uma turma de 1º ano da licenciatura, na Escola Superior de Comunicação Social, que o ouvem enquanto escrevem em blocos de nota analógicos ou digitais. Rodeados pelos trabalhos premiados de fotojornalismo que cobrem as paredes da sala, os alunos recolhem informações para produzir uma reportagem sobre a visita.
Após um pequeno vídeo de apresentação da Lusa, João Pedro Fonseca explica algumas particularidades do jornalismo de agência, começando por referir a principal prioridade: o serviço público. Com o objetivo de o providenciar à comunidade portuguesa, a Lusa leva as notícias sobre o país às comunidades no estrangeiro e traz para Portugal as notícias sobre os portugueses no estrangeiro. De forma a fazer este trabalho, que permite uma manutenção da identidade cultural e ajuda ao sentimento de pertença à comunidade portuguesa, a Lusa está por todo o mundo: para além de todos os países da CPLP, a agência também tem presença em locais com grandes comunidades portuguesas, como África do Sul e Toronto, e nos grandes centros noticiosos, como Bruxelas e Nova Iorque. Para que esta comunidade possa continuar a existir é também de extrema importância a manutenção e partilha da língua portuguesa, razão pela qual João Pedro Fonseca lembra os jovens de que “os jornalistas devem dominar a língua de forma superior à população em geral”.
As engrenagens da máquina
Antes de poder continuar, João Pedro Fonseca é interrompido pela visão inesperada de Paulo Nogueira, um colega que tinha sido dispensado de acompanhar a visita por ter participado no piquete da noite, cuja hora de término ronda as duas horas da madrugada. Após breves apresentações, Paulo Nogueira confessa ainda não ter ido embora da redação, pois adormeceu num dos sofás agora ocupados pelos jovens estudantes. É assim, corrida e sem dias repetidos, a vida dos 263 trabalhadores do quadro e 306 jornalistas da Lusa, que produziram mais de 267 mil notícias em 2022.
As agências, explica Paulo Nogueira, “funcionam como os grossistas: vendem a clientes que, depois, vendem ao público”. Entre os clientes da Lusa, encontram-se quase todos os outros organismos de comunicação social, como rádios, jornais e televisões, mas também escolas, ministérios, institutos e até o Presidente da República.
Para além de explicar que os jornalistas de agência trabalham “para jornalistas e não para o público em geral”, João Pedro Fonseca refere também que “os trabalhos são assinados apenas com as iniciais do autor”. Questionados pela audiência sobre o potencial de o conteúdo ser copiado, ambos os jornalistas explicam ser possível, embora lamentem ser revelador de uma enorme falta de ética profissional. “O trabalho de um jornalista de agência, por vezes, é reproduzido na íntegra pelos clientes com outra assinatura”, explicam. É importante realçar que, até certo ponto, o reaproveitamento do conteúdo produzido faz parte da natureza do jornalismo de agência, que surgiu no final do séc. XIX por ser mais barato enviar para os locais apenas um jornalista que pudesse escrever notícias para utilização de várias publicações.
O jornalismo de agência tem, assim, a particularidade de ser feito por estes heróis invisíveis, cujo trabalho é usado em diversas publicações sem que a população em geral saiba sequer o seu nome. Também os repórteres devem ser, ainda que de forma diferente, invisíveis no seu trabalho. “Não somos a cara da notícia, arranjamos a cara para a notícia”, diz João Pedro Fonseca. O jornalista recorda os estudantes que a bolha do jornalismo nem sempre vê a realidade e ilustra-o com a história do momento em que conversava sobre a internet com um jovem que, veio a perceber, não tinha nunca tido acesso à mesma. “Temos de nos esforçar para sair da bolha, contrariar os algoritmos e aproximar-nos uns dos outros”, conclui.
Jovens jornalistas do futuro
Sobre a importância da profissão, Paulo Nogueira relembra que “o mundo já foi totalmente dependente dos jornalistas e da comunicação social para saber o que se estava a passar”. Atualmente, continuam a ser os jornalistas a estarem qualificados para escrever notícias. O antigo chefe de redação considera que “é preciso investir ainda mais na profissão para as pessoas terem em quem confiar”. Mesmo numa era de inteligência artificial e bases de dados, a sociedade tem de reconhecer o jornalismo e os jornalistas como as “urgências” da informação. João Pedro Fonseca acrescenta que “há muitas coisas que as máquinas podem fazer, mas substituir o espírito crítico do ser humano não é uma delas”.
Antes de terminar a apresentação, os jornalistas mostram ainda aos alunos alguns exemplos de fake news e reforçam a importância da literacia mediática, tanto para a população em geral como, particularmente, para a classe jornalística. Para além disso, apresentam também várias ferramentas que podem, e devem, ser utilizadas para detetar e combater a desinformação: como plataformas de fact-checking ou os cursos de literacia para os media promovidos pela Lusa.
Já perto do final da visita, João Pedro Fonseca e Paulo Nogueira reforçam a importância desta profissão para a democracia e para a vida em sociedade, da mesma forma que lembram que é preciso dar aos jornalistas condições para possam escolher a ética na sua profissão. Antes de levar os jovens pelas escadas até algumas das editorias nos pisos superiores, os jornalistas deixam ainda alguns desejos para a o futuro da próxima geração de profissionais: Paulo Nogueira pede que não tenham medo da tecnologia, mas aproveitem as suas possibilidades para ter um conhecimento mais amplo e vasto. Por outro lado, João Pedro Fonseca está confiante que “os jovens vão fazer um jornalismo muito melhor, mais próximo da realidade, e mais fundamentado”.
Quando descem as escadas ao regressar do frio da redação do Desporto, os jovens ouvem ainda a ecoar na sala as gargalhadas que se seguiram ao apelo de Paulo Nogueira, embrulhado no seu cachecol a ver quase toda uma turma de olhos e dedos no telemóvel para tomar notas, a que “não fiquem escravos dessa tecnologia e não se deixem moldar por ela” e a que “riam, não digam lol”.
Visita à agência Lusa: a primeira experiência em redação
Nem mesmo a chuva intensa que caía na rua afetou a calorosa receção dos alunos de Jornalismo da ESCS à agência Lusa. Testemunhos de distinta experiência, troca de aprendizagens e boa disposição foram uma constante nesta tarde tão emotiva. Afinal, o jornalismo também desperta sensações para além do burburinho de uma redação ou do cheiro de uma edição diária, acabada de sair da gráfica
Por Rodrigo Miranda
Tudo dava a entender que a tarde de 7 de dezembro seria ideal para ficar confortavelmente em casa a estudar para a grande semana de frequências que teria início logo após o fim de semana prolongado. Porém, não foi o que aconteceu. Defendidos por casacos impermeáveis e de caneta em punho, os jovens estudantes da Escola Superior de Comunicação Social deslocaram-se até à sede da agência Lusa, em Benfica, em Lisboa, onde foram recebidos por João Pedro Fonseca, jornalista e coordenador da Escola Lusa.
A elegante antecâmara que precedia o pequeno auditório improvisado onde os jovens se sentaram a ouvir e a tirar apontamentos combinava, na perfeição, com a nobreza do trabalho jornalístico. Imediatamente a seguir à entrada, um enorme mapa jaz sobre a parede, com o intuito de mostrar todos os países - ou melhor, quase todos - onde a Lusa tem um correspondente. Atendendo à atual situação geopolítica, destaca-se a ausência de correspondentes na Rússia. Questionado sobre o assunto, João Pedro Fonseca admite que o mapa se encontra desatualizado. O jornalista acrescenta que a Lusa teve, em quase toda a sua história, um correspondente em Moscovo, mas que durante o período da Troika esse cargo foi suprimido. “Com o desenrolar da ofensiva Russa em território ucraniano, esse foi um investimento que teve de ser novamente retomado”, explica, fortalecendo assim a perceção de vanguarda e de atualidade que é, tantas vezes, associada à agência.
Na Lusa, a atualidade corre e deixa a sua pegada eternizada em 199.573 textos, 49.365 fotos, 10.026 áudios. Em suma, 500 notícias por dia. Estas foram algumas informações que os futuros jornalistas absorveram durante as quase duas horas e meia de palestra, relativas à produtividade da Lusa, no ano de 2022. Estes números superlativos no panorama nacional só reforçam a ideia de que a maior redação do país é e continuará a ser um elemento determinante para milhões de falantes da língua portuguesa - e não só - que pretendem manter-se informados, dia após dia.
Portas abertas? Só à nacionalização
A típica timidez de quem ouve a voz da experiência fazia-se notar na sala. Poucas eram as perguntas colocadas aos oradores. Todavia, algumas inquietações afligiam as cabeças dos jovens aprendizes. O futuro do jornalismo estava ali, acomodado em cadeiras almofadadas e quentes, preocupado com a atual situação dos média em Portugal. O que é certo é que as portas da redação da Lusa já não se abrem para novos rostos há muito tempo. Sem contratar desde há uma década, a média de idades é superior a 50 anos. João Pedro Fonseca atribui as culpas da atual situação às empresas que tentam lucrar desenfreadamente, entre outras coisas, com a publicidade: “Os privados compram os órgãos de comunicação social em que possam controlar a informação.” É de lembrar que a Lusa não usa publicidade e, na sua génese, tem como princípio prestar serviço público, o que justifica os 50.15% de capital do Estado, com negociações em curso para ser adquirida a restante estrutura acionista. A solução poderá passar pela nacionalização total da agência, processo que o atual ministro da Cultura espera que seja consumado pelo próximo governo. Reconhecendo a importância da maior agência noticiosa de língua portuguesa no mundo, Pedro Adão e Silva afirmou, à entrada para o Conselho de Ministros, que "a agência Lusa pode ser um instrumento muito interessante e muito relevante para apoiar o jornalismo e a comunicação social".
A noite que, entretanto, caíra conferia à redação a verdadeira mística do jornalismo. A expectativa para descobrir o mundo que estava para além daquelas escadas sombrias era enorme, principalmente, vinda de jovens que nunca tinham pisado numa redação. Por detrás das antigas portas, encontrava-se um desarrumado bloco operatório. No seu interior, os cirurgiões de papel e caneta iam dissecando a sociedade, o desporto, a economia, a cultura, a política e todas as outras editorias existentes, descobrindo toda a verdade que é revelada em cada história. Sem formalismos e com boa disposição, os futuros jornalistas percorriam os corredores atarefados e descobriam não só os segredos de uma redação, mas também o método de trabalho que o local exige para o seu bom funcionamento.
Quais as palavras que ficam para perpetuar esta experiência única? Motivação será, possivelmente, a escolha mais segura. Os jovens que agora saíam faziam-no com brilho nos olhos, que se ia refletindo e propagando na noite escura. Para trás, fica a esperança de um dia poderem voltar a entrar pelas portas estreitas de uma redação. O caminho poderá ser longo e sinuoso. Porém, a verdade - princípio sagrado do jornalismo - é que daquele bloco operatório saem, todos os dias, informações de reconhecido rigor, imprescindíveis para uma sociedade mais saudável e democrática, sem doenças nem vícios.